Entrevistas Especiais
Entrevistado 01
Acadêmico Harlon Homem de Lacerda
Entrevistador - Harlon Homem de Lacerda é um prazer contarmos com sua participação em nossas páginas. Conte-nos: o que levou a ter gosto pela escrita literária?
Harlon Homem de Lacerda - Primeiramente, Fora Temer! Em segundo lugar, gostaria de agradecer a oportunidade de falar para esta revista que hora é criada e dizer da honra e alegria em fazer parte da Academia Oeirense de Artes. Muito bem, eu escrevo desde os 16 anos de idade, quando era estudante na Escola Técnica Federal do Ceará (hoje conhecido como IFCE) em Juazeiro do Norte. Naquele tempo, comecei a escrever um jornal de críticas à gestão da escola sob um pseudônimo e foi um grande sucesso entre os estudantes. Até um professor passou a colecionar os jornais. Depois de saborear o gosto da escrita e de ser lido por meus pares, continuei até abandonar o curso técnico de Eletrônica para fazer o curso de Letras-Português. Dessa maneira, minha escrita seguiu e segue até hoje tentando explorar os diferentes gêneros literários.
Entrevistador - Em que momento pensou em escrever "Não custa nada tentar (ir) am@r-te"?
Harlon Homem de Lacerda - "Não custa nada tentar (ir) am@r-te" é meu segundo livro de poemas. Os poemas que compõem o livro, inicialmente, não foram escritos com a intenção de publicar. Eram produções mais pessoais até que me veio, como uma imagem pronta, o título do livro e o formato que ele deveria ter. Então peguei os poemas, em torno de 60 poemas, e passei as 72 horas seguintes, redesenhando, reformulando, adaptando, formatando, desenhando cada poema dentro daquela concepção inicial que tive. Assim nasceu o livro: um livro de cor, de ressignificação da palavra, de pluralidade da relação entre imagem, papel, palavra, verso, da quebra do verso. Uma mistura de linguagens que me influenciaram ao longo dos anos de carreira docente e de poeta. Assim surgiu esse segundo livro de poemas: um momento de puro ímpeto, inspiração e trabalho.
Entrevistador - Quais os desafios para escrever "Não custa nada tentar (ir) am@r-te"?
Harlon Homem de Lacerda - O grande desafio para escrever o livro é que ele não fosse apenas mais um livro de poemas, mas o conjunto de significados e ressignificações, uma mistura de linguagens - incluindo aí as performances gravadas no youtube para os leitores e leitoras do livro. O próprio formato impresso em cartões independentes reforça essa busca pela liberdade, pelo novo, pela unicidade de um livro que pode ser manipulado de várias formas pelo leitor.
Entrevistador - Você é um dos fundadores da Academia Oeirense de Artes. Conte-nos um pouco sobre o sentimento de oeirensidade em um cearense de nascimento?
Harlon Homem de Lacerda - Vivo em Oeiras há cinco anos. Devo confessar que a adaptação não foi fácil. Aqui eu deveria começar tudo do zero: novos amigos, novo emprego, novo lar. Há dois anos o nascimento de minha filha Bárbara, oeirense, tornou essa adaptação muito mais fácil. Então, continuo tentando me adaptar, mas aprendi a respeitar a cultura, a tradição, a beleza sertaneja desses sertões de dentro, as peculiaridades locais, os problemas que o povo passa e tem passado (não apenas aqui em Oeiras, mas no Brasil e no Mundo). Uma característica dos oeirenses que acredito ter sido de extrema importância para facilitar essa adaptação foi o acolhimento. Fui muito bem acolhido pelos estudantes e pelas pessoas da cidade. Em 2016 fui agraciado como Comendador da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí, honra da qual muito me orgulho e que pretendo dignificar continuando a lutar em defesa da UESPI, Campus de Oeiras, e divulgando toda a História e Cultura dessa cidade que me acolheu e me deu uma filha.
Entrevistador - Seu patrono na Academia é O. G. Rego de Carvalho, qual sua identificação com a obra dele?
Harlon Homem de Lacerda - Uma das marcas de O. G. Rego de Carvalho é a dedicação à sua obra, o cuidado, o manejo, a reescritura que ele fez até o último minuto de sua vida. Acredito que esta dedicação, este amor à vida e à literatura é o que mais nos aproxima enquanto devotos às letras.
Entrevistador - Conte-nos um pouco sobre objetivos e temas abordados nos textos que compõem seu livro de contos "Esboço de Vontades"?
Harlon Homem de Lacerda - O livro "Esboço de Vontades" foi publicado em 2011 como uma coletânea de contos publicada originalmente num blog, que ainda existe, chamado "eu canto conto". São várias estórias, de vários temas e tamanhos que trazem personagens e narrativas de formatos diferentes, sendo algumas delas apenas gravadas em áudio, num formato de contação de estória. Neste ano de 2017, pretendemos lançar uma segunda edição do livro com novos contos e uma estória infantil de pano de fundo. Neste formato, pretendemos unir duas gerações de leitores (pais e filhos) no mundo da leitura.
Entrevistador - Também escreveu o livro de poesias ""Poenomerados: poemas nomeados com números", fale dele.
Harlon Homem de Lacerda - O livro Poenomerados foi lançado em 2013, sendo nosso primeiro livro de poemas. São poemas de vários temas guiados por pequenos entrechos em prosa. O formato dos poemas é tradicional, obedecendo ao verso e a estrofe tradicional, mas com um trato moderno em várias de suas poesias.
Entrevistador - De que se trata o livro de ensaios "Olhares bakhtinianos: ensaios de análise literária"?
Harlon Homem de Lacerda - O livro de ensaios olhares bakhitnianos traz textos de reflexão sobre a teoria literária e a literatura brasileira, todos com base o pensamento do filósofo russo Mikhail Bakhtin. Outro destaque do livro é a leitura de alguns textos de João Guimarães Rosa, que é nosso foco de pesquisa. O pensamento dialógico, inacabado e prosaico de Bakhtin coaduna-se à literatura inovadora, aberta e sertaneja de João Guimarães Rosa.
Entrevistador - Quem desejar adquirir seus livros como deve proceder?
Harlon Homem de Lacera - Os livros podem ser adquiridos comigo através de facebook, whatsapp, e-mail ou telefone. Também estão disponíveis na loja virtual www.cafeinaliteraria.com.br
Entrevistador - Quais seus principais objetivos como autor?
Harlon Homem de Lacerda - O principal objetivo é ser lido, ter minha obra reproduzida, lida pelas pessoas. Afinal, só existe literatura se existe leitor, já disse o mestre Antônio Candido.
Entrevistador - O que mais lhe encanta na área literária?
Harlon Homem de Lacerda - A possiblidade de criar mundos, pessoas, situações que são vida e não são ao mesmo tempo, que são melhores ou piores que o mundo real, que são uma realidade possível e impossível. O encantamento da arte literária é a suspensão da descrença, como disse certa vez um pensador britânico. Ou, como disse Aristóteles sobre a tragédia, é a possiblidade de purificar os sentimentos através do contato com a arte, de purificar-se sem necessariamente de sofrer na pele.
Entrevistador - Quais as melhorias que você citaria no mercado literário no Brasil?
Harlon Homem de Lacerda - O mercado editorial é uma reprodução do modelo sócio-político e econômico capitalista no qual vivemos. Um modelo subserviente com os grandes e cruel com os pequenos, com as minorias, com os que não têm dinheiro pra bancar uma publicação, ou mesmo o que eles chamam hoje "coaching" ou agente literário. Pra entrar no mercado editorial, hoje, há possibilidade da internet e do sucesso primeiramente no mundo virtual para depois ser aceito no mercado real. Outra saída são os concursos literários que sempre alavancam a carreira de alguns escritores, mas o grosso dos escritores e escritoras estão fadados a escrever e vender pra amigos e familiares. Ou seja, aqueles que também nos socorrem quando o sistema capitalista nos destrói.
Entrevistador - Chegamos ao final da entrevista. Foi bom conhecer melhor o autor Harlon Homem de Lacerda. Deixe uma mensagem aos autores e aos seus leitores.
Harlon Homem de Lacerda - Peço que leiam, leiam sempre, leiam os clássicos gregos, babilônicos, latinos; leiam os russos, os espanhóis, os franceses, os ingleses, os lusitanos; leiam os brasileiros (não só Machado e Guimarães Rosa), mas os novos os que estão chegando, os que estão aí. Leiam os moçambicanos, angolanos. Leiam. Leiam. Leiam. Literatura é vida e a vida não se resume ao espaço-tempo no qual nosso corpo limitado está preso.
Entrevistado 02
Acadêmico Joca Oeiras
Entrevistador - É um prazer contarmos com sua participação em nossas páginas conte-nos o que levou a ter gosto pela escrita literária?
Joca Oeiras - Pertenço a uma família de intelectuais. Meu pai foi jornalista a maior parte de sua vida adulta, minha mãe era licenciada em História e Geografia pela faculdade de filosofia da USP. Livros sempre fizeram parte do meu ambiente familiar. Ler, sempre foi algo natural na minha vida. Aliás, falo bastante da minha formação cultural em "O terno e o frango".
Entrevistador - Em que momento pensou em escrever "O Terno e O Frango"?
Joca Oeiras - A matriz geradora do livro "O terno e o frango" já estava presente em 2004 quando, ainda morando em São Paulo, criei uma série de vinte microtextos que denominei "Ajustando contas com familiares". Também devo acrescentar minha participação no site "Overmundo" (2007 - 2008), onde eu e mais cerca de vinte e cinco colaboradores daquele site intentamos organizar e publicar um livro em que as pessoas escreveriam sobre suas reminiscências dos bancos escolares, um trabalho empolgante que rendeu bons frutos mas que não chegou a concretizar-se. Algumas das minhas reminiscências estão no livro. Por fim, e isso bem mais recentemente, me caiu a ficha de que se tratava de homoafetividade o relacionamento da Beatriz, minha mãe, e da sua companheira Mariúcha vinte anos mais nova. Não apenas porque elas dividiram o mesmo aposento nos últimos vinte anos de vida da Beatriz, mas também, porque eram amigas inseparáveis, companheiras de viagem e de vida social e cultural intensamente convivida. E se amavam, inegavelmente; se amavam muito! Então tomei como "missão" como falo brincando, tirar aquele casal lésbico do armário em que o moralismo da época as trancafiou. Mas faltaria à verdade se não dissesse que recebi inestimável estímulo de amigos como o professor e poeta Cineas Santos, o jornalista, escritor e prefaciador do livro Edmilson Caminha e, é claro, do patrocinador exclusivo da obra, o estatístico João Batista Teles, dono do "Instituto Amostragem - opinião e mercado" quem, afinal, pôs "O terno e o frango" na mesa.
Entrevistador - Quais os desafios para escrever "O Terno e o Frango"?
Joca Oeiras - Não vou inventar: escrever "O terno e o frango" foi um dos trabalhos mais prazerosos que tive em toda a minha vida e, diga-se, a aprovação dos leitores me deixa ainda mais feliz.
Entrevistador - Você é dos fundadores da Academia Oeirense de Artes. Conte-nos um pouco sobre o sentimento de oeirensidade em um paulista de nascimento?
Joca Oeiras - Sempre gosto de salientar, sou o Joca Oeiras não o Joca de Oeiras. E as pessoas que já leram e as que vão ler "O terno e o frango" já sabem ou irão saber que o paulistano está profundamente arraigado a mim. Maíra, minha filha é soteropolitana, mas nós saímos de Salvador quando ela ainda não tinha completado cinco anos de idade; então, o lugar onde ela nasceu, Salvador é lindo, mas o fato de ela ter nascido lá não é tão relevante. Nasci e me criei e morei em São Paulo nos primeiros vinte e oito anos da minha vida. Certa vez certamente brincando, o cronista Ferrer Freitas, autor do livro "Solo Distante", perguntou-me se eu era "a nova cara de Oeiras" e eu respondi que só tenho uma cara, a minha mesmo. Oeiras no meu nome é uma homenagem a esta linda cidade que tão bem me acolheu, não algo que eu pretenda ter usurpar dos nascidos e criados na cidade. Eu diria que a minha oeirensidade é poética.
Entrevistador - Fale sobre sua identificação com seu patrono na Academia?
Joca Oeiras - Minha iniciação a Oeiras se deu pelas mãos do Carlos Rubem, o Dr. Bill, e como pratos principais o livro "Né de Sousa" e a revista do IHO n° 17. Também já li inúmeras crônicas inéditas do Dr. José Expedito. Tenho, também, identificação com o posicionamento político ideológico dele.
Entrevistador - Conte-nos um pouco sobre o livro "No Nós e Elis Éramos felizes e sabíamos" ?
Joca Oeiras - Não conheci o legendário bar, mas informado da verdadeira legião de antigos e saudosos frequentadores do bar fui atrás de convidá-los para deixarem um depoimento sobre sua experiência no bar. E, à custa de ser o chato que sempre fui, consegui reunir cerca de 35 depoimentos, inclusive os dos oeirenses Emerson Boy Batista, maestro Aurélio Melo e Governador Wellington Dias. Considero que o livro foi uma contribuição importante para a história de Teresina e me orgulho muito de tê-lo realizado.
Entrevistador - Quem desejar adquirir o livro, como deve proceder?
Joca Oeiras - Pode me contatar pelo-e-mail jocaoeiras@yahoo.com.br, inbox no facebook ou pelo fone/whatsapp (89)9-9977-3990 ou, ainda, pessoalmente na Fundação Nogueira Tapety, endereço Zacarias de Goes, n° 12, sala1, centro de Oeiras).
Entrevistador - Quais seus principais objetivos como autor?
Joca Oeiras - Principalmente ser lido e, se possível gostado.
Entrevistador - Chegamos ao final da entrevista. Foi bom conhecer melhor o autor Joca Oeiras. Deixe uma mensagem aos autores e aos seus leitores.
Joca Oeiras - "Todos deveriam ler 'O terno e o frango'" (Jota Jota Sousa).